A coleta seletiva em Belo Horizonte – MG

Coleta Seletiva

A prefeitura de Belo Horizonte desde o dia 23 de março deste ano suspendeu a coleta seletiva de porta em porta e de ponto em ponto. Segundo o site G1 que publicou a decisão da Prefeitura de Belo Horizonte em março, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) suspendeu o recolhimento visando a saúde dos trabalhadores que manuseiam os recicláveis e que poderiam contrair o COVID-19 por meio dos objetos contaminados. Ressalta-se que a coleta seletiva representa 18% das 2.800 toneladas de lixo descartado por dia na capital mineira. Isto significa que 504 mil quilos de lixo reciclável eram recolhidos diariamente; que no período compreendido entre a data de suspensão da coleta seletiva até o momento de construção deste trabalho (23/03/2020 a 21/07/2020), chegar-se-ia ao número gigantesco de 60.480.000 (sessenta milhões quatrocentos e oitenta mil quilos) de lixo reciclável.

Evidentemente não se questiona as medidas de segurança adotadas pela prefeitura para salvaguardar a vida. Ao contrário de qualquer crítica à decisão tomada pela prefeitura, é imprescindível apoiar todo tipo de postura adotada para prevenir e combater esta pandemia viral que atingiu o planeta. Na época, estarrecidos pela propagação e fatalidade do vírus, ações como estas de suspensão da coleta seletiva, o isolamento social, o uso de máscaras e etc. foram, e são, as melhores medidas que podiam ser tomadas até que o vírus fosse melhor compreendido e com isto desenvolver medidas de controle ou a chegada da vacina. 

Mas já se passaram quatro meses e durante este período vários especialistas defendem a teoria que haverá um novo normal, no qual a vida como a conhecíamos não será igual ao período antes do COVID19. Sobre este tema, o ‘novo normal’, o professor adjunto do departamento de psicologia clínica da Universidade de Brasília Instituto de Psicologia, Pedro Henrique Antunes da Costa, e a psicóloga Kíssila Mendes, no artigo Pandemia, questão social e as implicações à psicologia brasileira, consideram: 

“À psicologia cabe a análise crítica e o combate deste normal como construção histórica de ainda mais sofrimento, precariedade, essa anormalidade normalizada – e normatizada – que encarna nos corpos e mentes. Para isso, essa deve, inclusive, se colocar em xeque, questionando a si mesma acerca do papel que cumpriu e cumpre na manutenção da ordem, por meio de processos de ajustamento, coerção, adaptação e segregação. E tal movimento será tão mais robusto quanto mais crítico for das bases da própria psicologia, ontológicas e epistemológicas, e seu projeto ético-político coadunantes aos da ordem social. Além disso, resta à psicologia a contribuição, mesmo que pequena, para a construção de um novo normal, que signifique uma nova sociedade e um novo ser; um novo normal que é produto das mãos, pés, corpos e mentes dos indivíduos que dele necessitam, e com os quais a psicologia se faz; que não seja um novo-velho, que englobe as infinitas possibilidades de ser e existir, e que extraia do passado os aprendizados necessários para a edificação de uma dinâmica de vida livre de qualquer exploração e opressão.

Neste artigo supra citado, existe uma série de considerações de extrema relevância a vida social ao abordar o sentido do “novo normal”. De posse deste novo conceito de que as pessoas irão mudar sua forma de se corresponder umas com os outras, analogamente haverá mudança estrutural de como o indivíduo se relaciona com o meio ambiente qual vive. Com isto chegamos ao nosso problema: Poderia este momento de isolamento social ser um momento de ação pública de conscientização e ampliação para a coleta seletiva em Belo Horizonte, tendo em vistas que as pessoas estão dentro de suas casas e buscam o que fazer para além do home office?

Em 16 de julho a prefeitura de Belo Horizonte publicou em seu site oficial que:

 “Para tornar a coleta seletiva em Belo Horizonte mais rápida e eficiente, estão sendo implantados na cidade, desde outubro de 2019, os Pontos Verdes, em substituição aos antigos Locais de Entrega Voluntária de Recicláveis (LEVs). 

Com a mudança, ficou mais fácil acondicionar os recicláveis nos coletores. São disponibilizados apenas dois compartimentos, sendo um destinado à coleta de papel, metal e plástico, e um outro reservado para acondicionar somente o vidro. Os materiais devem estar limpos e secos, para não provocar mau cheiro e atrair animais que possam causar doenças. O novo sistema permite que caminhões apropriados façam a coleta.” 

(https://prefeitura.pbh.gov.br/slu/informacoes/coleta-seletiva/ponto-a-ponto)

Com estas abordagens iniciais em que existe alta produção de lixo reciclável na cidade, que as medidas de suspensão do recolhimento para proteção das pessoas foi necessária e acertada, que existirá um novo normal e ainda que a cidade se prepara para a retomada do crescimento econômico, urge, que o governo municipal volte com a coleta seletiva de maneira mais intensificada e não o que passa a praticar a partir de agora.

Fica evidente que a decisão de coletar somente nos “Pontos Verdes” distribuídos por regional, cancelando a coleta de porta em porta, torna uma medida muito pouco eficiente por diminuir a intensidade no sistema de coleta seletiva, que antes, além do de porta em porta haviam as Lev’s substituídas pelos pontos verdes. Na contramão de da decisão tomada, o governo municipal deveria aproveitar o momento de isolamento para ampliar a conscientização ambiental dos munícipes que, com mais tempo disponível em seus lares, podem aderir e aumentar o percentual de 18% do lixo reciclável por meio de campanha educacional que terá mais aderência se feita agora. Mas não é simplesmente voltar com o sistema antigo de recolhimento, há necessidade dos devidos cuidados para as pessoas que estão no processo.

Debates a respeito do caos econômico da pós pandemia e da retomada do crescimento para geração de emprego e renda é o assunto mais importante, depois das medidas de ação de combate ao COVID19. E visando a retomada da economia, o Desenvolvimento Sustentável deve ser a base para qualquer crescimento, quer econômico, quer social, quer cultural, quer ambiental. Não se pode esquecer o meio ambiente neste processo de retomada de crescimento. E o estímulo a coleta seletiva na capital, pode e deve fazer parte deste novo normal que buscará, a partir de já e nos próximos meses, a retomada do crescimento econômico. Não se pode mais esquecer o meio ambiente e os impactos gerados pelo consumo, resultado, da economia de mercado.

Quanto às pessoas que pertencem ao processo de coleta seletiva, deverão estar cuidadas e devidamente protegidas. Existe normas específicas para riscos biológicos, NR-32 (https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-32.pdf), qual trata desta exposição, mas para os trabalhadores do serviço de saúde. O que se defende neste trabalho é o retorno da coleta seletiva, estendendo as ações da respectiva NR-32 para aqueles que estão diretamente envolvidos no processo. O Ministério da Saúde disponibiliza o manual de classificação de risco biológico (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/classificacao_risco_agentes_biologicos_3ed.pdf) em apoio a NR-32. Não é objeto deste trabalho substituir o eficiente desempenho dos Engenheiros de Trabalho e Técnicos de Segurança do Trabalho. Ao contrário, ressaltar que existem condições seguras para o desenvolvimento e ampliação da atividade elaboradas por estes profissionais, que garantirão o retorno do processo de coleta seletiva visando a saúde e segurança do trabalhador e a sustentabilidade. Os governos de todo o planeta e, Belo Horizonte em especial, precisa estar comprometida com a adoção e ampliação sustentável, haja vistas ter sido conhecida em tempos anteriores como “Cidade Jardim”.

BIBLIOGRAFIA

PANDEMIA, QUESTÃO SOCIAL E AS IMPLICAÇÕES À PSICOLOGIA BRASILEIRA, Antunes da Costa, Pedro Henrique e Teixeira Mendes, Kíssila. 2020. academia.edu

Decisão está relacionada às ações de combate ao Covid-19. Coleta domiciliar continua. Por Magno Dantas, TV Globo, Belo Horizonte, 22/03/2020

https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/03/22/prefeitura-de-belo-horizonte-suspende-coleta-seletiva-na-cidade.ghtml

Coleta Seletiva Ponto a ponto. Site PBH, Consulta em 27/07/2020, às 13:12.

https://prefeitura.pbh.gov.br/slu/informacoes/coleta-seletiva/ponto-a-ponto

Por Maria Lina
Especialista em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional

Políticas de Saneamento

Saneamento se refere a dois vetores sociais, para a saúde pública, muito importantes: água potável e esgoto. Assim, quanto maior o número de moradias atendidas com água tratada e potável e menor o número de moradias sem a coleta de esgoto, teremos uma sociedade mais cuidada, com custo social mais baixo para os tratamentos com a saúde popular.

Desde 05 de janeiro de 2007 temos a Lei 11.445, que trata do que se denominou de ‘Saneamento Básico’, como um conjunto de serviços, infraestrutura e instalações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais urbanas. Porém, no que se refere à efetividade da Lei, assistimos a um descompasso de tempo e de interesses que subtraem da sociedade um bem que deveria ser prioridade, também básica.

Por isso, quando falamos que o Congresso Nacional “aprovou” o Marco Legal do Saneamento Básico, em verdade, deveríamos entender (muito além dos interesses dos vetos presidencial), que a caduquice da MP 868/2018, em fins de 2019, nos mostra muito mais nosso atraso em termos do bem estar social brasileiro.

Ao invés de qualquer norma com força de lei ou da própria lei, nossos gestores públicos, em qualquer esfera de decisão, deveriam se interessar mais pela prevenção da saúde pública do que dessa iniciativa tacanha, para não dizer vergonhosa, de ovacionar a aprovação desse marco regulatório. Sabedores que são, ou os seus assessores sabem, que todo dinheiro gasto em saneamento será economizado, no mínimo, em dobro, com o cuidado da saúde popular.

Assim sendo, pensar na existência de lixões, se a gestão é pública ou privada, se a  infraestrutura de coleta e de tratamento dos resíduos tem que ser assim ou assado, melhor um posicionamento, mesmo que municipal, pró ativo na execução destas necessidades, pois teríamos menos de preocuparmos com leis e marcos regulatórios.

O fato está na indigna condição dos Cidadãos brasileiros em viver e conviver com um quadro repleto de vetores de doenças e descalabros da higiene, uma das necessidades humanas, para qualidade de vida. O papel, ou no papel, tudo se faz e se resolve. Porém, esquece-se que o papel também pode ser embalagem para se guardar, presentear, ou proteger algo. Este é o problema, nos perdemos em debates e discussões e esquecemos de atender ao povo.

O conhecimento técnico ou prático, do ‘objeto’ desse ‘Marco Regulatório’ há muito é ensinado nas faculdades do mundo, para não dizer da matéria de ciências no ensino fundamental brasileiro.

Não há tempo mais para lixões! Não há tempo mais para a omissão!

Não há como querer esconder verdade maior do Cidadão!

Por Eduardo Tavares